À data que escrevo este texto, faz precisamente doze anos que saí de um sistema religioso que recuso voltar. 

Hoje sei o que não quero ser.

A razão do meu afastamento é teológica.

O modo como o Evangelho ficou distorcido, completamente enviusado, com repercussões bastante negativas.

Sem saber muito bem, algo me incomodava no que ouvia e no que na prática via. O que me salvou foram as memórias das antigas verdades, que ainda fui a tempo de as relembrar.

Estava em completo conflito e necessitava urgentemente de dar rumo à minha vida, precisava de alinhar a minha vida com o verdadeiro espírito do Evangelho. Foi então que tomei a decisão de romper.

Não foi fácil, foram 30 anos de uma formatação que galga na nossa mente devagarinho, subtil, que toma posse do nosso ser como se da verdade tratasse. São amarradas poderosas, difíceis de nos livrarmos, compreendo perfeitamente quem ainda não conseguiu se livrar dessas amarras.

Necessitei de fazer uma desintoxicação espiritual, doze anos de um processo difícil, mas ao mesmo tempo lindo, libertador e cheio da graça de Deus.

Em 2018, nasce a igreja Lighthouse, fundada por mim e pela minha esposa, tomamos a decisão de iniciar este projeto com o propósito de ajudar pessoas, que tal como nós, necessitam de desintoxicação.

No entanto, estes primeiros quatro anos da igreja Lighthouse não estão a ser fáceis, apesar da grande expectativa, desde o dia da inauguração, 99,9% das pessoas que passam pela igreja, emergem do sistema neopentecostal, de onde eu sai e de onde as pessoas me conhecem. É um sistema que contamina muitas outras igrejas, que apesar de não serem consideradas neopentecostais, estão inundadas de mentes formatadas em crenças religiosas que provêm do neopentecostalíssimo, o que nos afasta do verdadeiro evangelho de Cristo. É uma luta. Pois muitos entram e saem, porque não conseguem largar as “moletas” que têm norteado as suas vidas espirituais e ao confrontarem o ensino da igreja Lighthouse ficam perplexos, como disse, a maioria conhece-me do passado neopentecostal, e como tal, não estavam a entender a mudança do Fidalgo.

O sistema de planos de carreira, estilo “linha de montagem” onde se oferecem títulos eclesiásticos; o sistema da honra pessoal, onde se honram pessoas para satisfazerem seus caracteres narcisistas, a vaidade dos títulos e a perigosa idolatria a personagens que se acham deuses, sentados na cadeira de Moisés, como intermediários entre Deus e o povo. A busca dos sentimentos, das unções especiais, quebra de vínculos, cura interior, o sentir Deus, porque se não se sente a Deus, logo se concluí que algo está mal na vida da pessoa ou da igreja. Os frutos baseados na pose, no ter, no dinheiro, nos bens materiais, como validação da presença de Deus na vida da pessoa. Tudo isso e muito mais, é tudo aquilo que eu NÃO quero mais. Por isso digo: “Hoje sei o que não quero ser.”

A boa noticia é que ao fim destes quatro anos dificeis, a igreja começa a entender, o que me alegra muito. Começo a ver uma luz ao fundo do túnel, os irmãos estão a começar a ver o que é praticar o evangelho. Dou graças a Deus, porque somente ele nos pode ajudar a ver. Eu era cego e agora vejo.

 

Deus abençoe a todos.

 

José Fidalgo

01/07/2022