Termino esta 4ªtemporada com duas experiências que marcaram a minha vida, ambas se passaram na Eslováquia, um país que nasceu da dissolução da Checoslováquia, dando assim a origem a dois países em 1992, Republica Checa e a Eslováquia. As minhas experiências dão-se no ano de 2001 a 2002, o ambiente ainda era pesado, o espírito da antiga união soviética era ainda muito patente nas autoridades.
Lembro-me da primeira vez que atravessei a fronteira entre Áustria e Republica Chega, as autoridades da alfandega vestidas com aquelas fardas à Stalin, analisavam as bagagens, faziam perguntas perturbadoras, faziam estar algum tempo à espera da autorização e do visto de entrada. Não podíamos ser 100% honestos com o propósito da nossa viagem. Nossas bíblias eram bem escondidas e sabíamos que se fossem encontradas teríamos problemas. Nas lojas não haviam bíblias à venda, nem sequer podíamos perguntar, pois poderíamos ser denunciados ás autoridades. As cidades eram bonitas, bem organizadas, com jardins muito bonitos e limpas, mas não havia comida nas lojas e a que havia era cara. Uma boa parte da população não tinha acesso a carne e peixe.
A primeira experiência tem a ver com a alimentação. Impressionou-me ver um país bonito, mas com fome, lembro-me que fiquei hospedado num hotel, mas a comida era muito cara, até mesmo para mim, que vinha preparado com algum dinheiro, no entanto, um grupo de irmãos em Cristo se reuniam num espaço alugado, o disfarce era um escritório de advogados durante a semana e ao fim de semana, sorrateiramente, reuníamos para ouvir o evangelho de Jesus Cristo. Quando chegou a hora do almoço, eles nos serviram fatias de pão com manteiga e umas rodelas de pimento verde e vermelho, acompanhado com uma chávena de cáva (café). Era o nosso pequeno almoço, almoço e jantar, eles não tinham mais nada para nos oferecer, comíamos o que eles comiam normalmente, diariamente. Aquilo me impressionou bastante e decidi ensinar-lhes o que o evangelho nos ensina, que apesar da pobreza, Deus tem poder para nos abençoar e melhorar a nossa vida. Ensinei-lhes as pregações de Paulo, o modo como a igreja primitiva agia, o modo como a generosidade e a partilha podem mudar a vida das pessoas, das famílias e até de uma nação. Ensinei-lhes o princípio do dízimo. Hoje em dia, dar nem que seja dez por cento dos próprios rendimentos a obras caritativas parece uma quantia exorbitante, principalmente quando se tem pouco ou quase nada. Há momentos que as pessoas me procuram, como seu pastor, para se informarem acerca da maneira de exercer o “dizimo”, ou seja, dar um décimo dos seus rendimentos anuais. Elas veem que, no antigo testamento, há muitas ordens claras, no sentido de os crentes darem dez por cento dos seus rendimentos. No novo testamento, porém, essa exigência é menos notória, e não está especificada em termos quantitativos. Então perguntam-me: “Agora, no Novo Testamento, os crentes não têm necessidade absoluta de dar dez por cento do que ganham, pois não?” Eu sempre digo que não e, sinto o suspiro do alívio de algumas dessas pessoas. Mas depois sempre digo: “no Novo Testamento as pessoas davam muito mais do que dez por cento, pois somos mais devedores da graça do que da lei. Jesus Cristo não deu o dízimo do seu sangue, deu todo o seu sangue. Dar o dízimo é o padrão mínimo para os crentes cristãos”. Se lermos com atenção as cartas de Paulo, vemos o modo tão generoso como as igrejas da Ásia davam para Jerusalém, o modo como os crentes tinham as suas necessidades supridas, onde ninguém tinha falta de nada. Como Paulo dizia na sua segunda carta aos Coríntios no capítulo 8:14 “…a vossa abundância supra a falta de outros, para que, também, a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade…o que muito colheu não teve demais; e, o que pouco colheu, não teve menos.” E foi assim, com este ensino que expliquei aquele grupo de cristão na Eslováquia como poderíamos vencer a pobreza que estava bem patente na vida deles.
Eles não só acreditavam como punham em prática e, cada vez que os visitava, as refeições melhoravam. Lembro-me que a mudança começou com um almoço, estávamos todos preparados para comer a tal fatia de pão com manteiga e pimento verde acompanhado com café, quando recebemos a boa noticia que iriamos comer frango assado, reparei que um dos jovens, com seus 30 anos estava muito contente e perguntei à tradutora o motivo de tanto contentamento, a resposta foi de que ele não comia carne há mais de 6 meses. As lágrimas começaram a correr pela minha cara abaixo, ao ver a alegria de todos, porque o almoço tinha frango assado. À medida que visitávamos aquele grupo de irmãos em Cristo na Eslováquia víamos o cumprimento do Evangelho nas suas vidas, não lhes faltava nada, os mais abastados ajudavam os menos, e todos eram abençoados. A partir daquele dia, nunca mais faltou uma refeição de carne. À medida que os anos avançavam a qualidade de vida entre eles melhorava, muitos deles tornaram-se homens de negócio.
A segunda experiência, acontecia em paralelo com a primeira, a fome que aquele grupo de cristãos tinham do evangelho de Cristo. Os domingos passávamos o dia inteiro a pregar, a ensinar o evangelho. Tínhamos uma tradutora que traduzia de Português para Eslovaco, mas ela cansava-se e chegávamos a fazer assim: Eu falava em português, minha esposa traduzia para inglês e depois vinha uma outra pessoa que traduzia de inglês para eslovaco. Começávamos pela manhã, ás 10h e terminávamos à noite, pelas 20h. O impressionante é que ninguém saia da sala e estavam bem atentos e isso me impressionou bastante.
O poder do Evangelho muda uma pessoa para sempre.
José Fidalgo.
14/01/2023