A bíblia nas mãos de certas pessoas, torna-se num livro muito perigoso! Mas nas mãos de outras, com a doutrina certa e a interpretação correcta, torna-se num livro libertador, possuidor da vida eterna.
Jesus Cristo tem uma doutrina, ele disse: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou”. (João 7:16)
Aquele que o enviou, desde sempre a tem anunciado.
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.” (Hebreus 1:1)
O Filho, o Cristo, o Messias, a Palavra de Deus, encarnou, isto é, se fez homem e andou entre nós. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. (João 1:1-3)
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (João 1:14)
Aquele que é desde o inicio de tudo é a palavra de Deus, é a doutrina de Deus. Ele se fez homem e andou entre nós. E o que andou a fazer? A transmitir a doutrina de quem o enviou.
O autor de Hebreus menciona que os antigos a ouviram essa mesma doutrina pelos profetas, mas que agora a ouvimos pelo Filho, o Cristo. Sendo que essa doutrina é o próprio Cristo.
“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos”. (Lucas 24:44)
Quando Cristo andou aqui na terra não existia a bíblia tal como nós a conhecemos hoje, o próprio Jesus Cristo não escreveu nenhuma obra literária, ele é o cumprimento das profecias que foram escritas no chamado Canon Judaico, os 39 livros do Velho Testamento, designado por a Escrituras ou Escrituras Sagradas. Este Canon foi escrito mais ou menos entre 1.500 A.C. e 450 A.C. Um exemplo de um dos escritores desse Canon é Moisés, que escreveu os primeiros 5 livros da Bíblia, chamado Pentateuco. Outros foram o rei David e todos os profetas.
No caminho para Imaús, Jesus Cristo dizia: "São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos”. (Lucas 24:44).
Numa das sinagogas, Jesus Cristo dizia: “ ...O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor.
E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”. (Lucas 4:17-21)
Quanto aos escritos do novo testamento, os escritores o fizeram entre os anos 45 D.C e 90 D.C.
Um dos escritores foi o apostolo João, ele escreveu vários livros, para além do Evangelho segundo João, também escreveu 3 cartas, a I, II e III carta de João, bem como o livro de Apocalipse, as sete cartas ás sete igrejas da Ásia. Vejamos o que João diz na sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida
(Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. (1 João 1:1-4)
Gosto da expressão: “...e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida”.
É esta Palavra da Vida que é a Palavra de Deus para os nossos dias.
Esta Palavra da vida encontramos no Velho Testamento, nas antigas escrituras e de forma clarificada, revelada no Novo Testamento.
Somente a partir do imperador Constantino é que foi iniciado o processo de juntarem o Canon Judaico com o novo testamento. Não vou escrever aqui como foi o processo, apenas dizer que não foi fácil, pois por várias vezes, tentaram incluir e excluir vários livros, alguns que estão hoje na bíblia tiveram para não estar e outros foram retirados. Essa decisão foi feita minuciosamente, mas claro, quem decidiu foram homens.
A partir daí até aos dias de hoje, a Bíblia foi sendo traduzida para várias línguas e sofrendo algumas novas edições, com novas traduções, ao ponto, na minha opinião, algumas novas edições, dão várias direcções e interpretações que nos podem levar ao erro.
A bíblia, como os evangélicos a conhecem, é constituída por 66 livros, 39 no velho testamento e 27 livros no novo testamento, num total de 40 escritores, no entanto, a Bíblia que a igreja Católica usa, para além desses, tem também os chamados livros apócrifos, que contam a história judaica entre o tempo do profeta Malaquias até ao nascimento de Jesus Cristo. Um período de mais ou menos 400 anos, não se reconhecem a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo nesses livros, apesar da igreja Católica os ter incluído na bíblia por eles aprovada.
No entanto, os Evangélicos têm os 66 livros escolhidos, como os únicos que se reconhece a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo. Daí que podemos afirmar e assim o novo testamento o diz; “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; (II Timóteo 3:16)
Apesar da Escritura ser divinamente inspirada e proveitosa, não significa, que tudo o que nela está escrito é para nós hoje, isto é, para a aplicarmos à nossa vida pessoal.
Este é o grande problema; isto é, a verdade que nunca lhe contaram.
O Cristão, por norma, na generalidade, tem a ideia de que tudo o que está escrito na Bíblia é Deus a falar, isto é, é a palavra de Deus para ser cumprida.
Dizer: "Tudo o que Está escrito na Bíblia é para ser aplicado à nossa vida pessoal" é muito perigoso. Essa interpretação leva a muitos a cometerem barbaridades em nome da bíblia e em nome de Deus, inclusive, muito se matou e se mata em nome da Bíblia. “Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus”. (João 16:2)
Surgiram ao longo dos séculos, um vastíssimo número de doutrinas, visões, modos de interpretar as escrituras, ao ponto de nascerem seitas e falsos apóstolos por todo o lado. Um falso apostolo, profeta ou pastor, são todos aqueles que, em nome da bíblia e de Deus falam e pregam doutrinas falsas.
Só há uma doutrina, Cristo mencionou: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou”. (João 7:16)
A doutrina é Cristo, é a Palavra viva de Deus, o verbo, o EVANGELHO.
A doutrina não muda, porque Ele não muda. Ela, a doutrina, é a mesma, ontem, hoje e no futuro.
Foi dela que os antigos falaram, foi dela que Cristo falou e que mais tarde os discípulos falaram e escreveram, assim nasceram as cartas dos apóstolos, os 4 evangelhos, eles o sentiram, tocaram da palavra da vida e a anunciaram. Eles sim, são as verdadeiras testemunhas da Palavra da Vida! Deixaram escrito o Evangelho que ouviram da boca Dele.
A Bíblia é toda proveitosa, mas não é toda para ser cumprida nos dias de hoje e principalmente para a nossa vida pessoal.
Ao longo destes 30 anos de Evangelho aprendi, Deus abriu-me os olhos para entender o que estou a escrever neste texto. Quando comecei a perceber o modo como muitos pregadores usam a bíblia de forma intimidatória e manipuladora, usando, muitas vezes os textos fora de contexto e dando como certo o que falam, como sendo a Palavra de Deus para a vida das pessoas que os ouvem. Mensagens do género: “A tua oferta é como uma pedra para acertar na cabeça do Golias da tua vida” ou “A tua oferta é como uma pedra na cabeça do diabo, quanto maior for a pedra, mais dano fazemos na vida do diabo”, e coisas muitas loucas parecidas com estas, outra é: “Tens de sacrificar como Abraão sacrificou, tens de trazer o teu Isaac ao altar de Deus”, o Isaac que falam são: casas, automóveis, dinheiro, ouro...e usam o exemplo de Abraão como Palavra de Deus para a vida das pessoas, para os dias de hoje.
Outro exemplo é o de Job, usam o sofrimento de Job: “Deus vai abençoar-te, como fez com Job, mas...” lá vem o mas...Deus dá, Deus tira, este "Deus dá e Deus tira", é intimidatório, mas quem o falou foi Job e não Deus. Era a percepção de Job, mas Deus nunca falou isso.
Alguns pregadores intimidam as pessoas: “se não queres que Deus te tire, então tens de” ....lá vem o tens de...Tantos exemplos que poderia dar.
O que importa aqui realçar é que, a doutrina de Cristo é uma só, é o Evangelho. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o homem. Não existem vários evangelhos, apesar do Evangelho ser escrito por 4 autores: Mateus, Marcos, Lucas e João e mencionado em todos os livros e cartas no novo testamento, o Evangelho é só UM.
Assim sendo, não é possível existirem duas doutrinas da salvação, a que se pode perder e a que não se pode perder. Não é possível existirem três arrebatamentos da igreja, um antes da grande tribulação, um outro durante e ainda, um outro depois. Não é possível existirem duas noivas de Cristo, uma que é a igreja e a outra que é a nova Jerusalém. Não é possível...e vai um rol de muitos exemplos, depois aparecem, para baralhar ainda mais isto, a doutrina das dispensações, enfim...é só doutrinas por todo o lado.
Então o que fazer? Muito simples...fazer o que decidi fazer há 10 anos atrás. Ler o Evangelho devagar, versículo por versículo, tendo cuidado na leitura, na pontuação, entender o contexto e acima de tudo, olhar para as escrituras sagradas com os olhos de Cristo. Para entendermos a bíblia, só conseguimos entender com o olhar de Cristo, Cristo é a chave hermenêutica para entender toda a Escritura.
Tudo o que Moisés, David e os profetas escreveram é divinamente inspirado e proveitoso para ensino, podemos aprender com todos, mas se encontrarmos passagens que não passam no olhar de Cristo, que não casam com o que ele veio anunciar, então não as tomo como Palavra de Deus para ser praticada na minha vida pessoal.
No sermão na Montanha Jesus mencionava: “Ouviste o que foi dito? Pois eu vos digo...”
Por exemplo, o rei David tem salmos em que ele deseja a morte dos seus inimigos, olho por olho, dente por dente. Se eu for aplicar esse principio, hoje na minha vida pessoal, não passa no olhar de Cristo, porque o Evangelho me diz para amar até os meus inimigos. Tenho de fazer uma escolha, ou eu mando matar os meus inimigos ou perdoo. O Evangelho manda perdoar!
Assim é, a mesma coisa para tudo. Só Cristo é a chave para entender as Escrituras...isto anda tão baralhado nestes tempos, que há quem pense que existia um Deus no velho testamento e um outro Deus no novo testamento. O Deus é o mesmo, ele não muda, o problema é que o homem demorou a entende-lo, muitas coisas nos tempos antigos eram “sombras” do que viria ser claro. Cristo veio clarear o que Deus sempre pensou e sempre desejou para toda a humanidade.
Muito se pode dizer, mas para já fico por aqui!
Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo
20/01/2020