“Pelos seus frutos os conhecereis. É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?” (Mateus 7:16) 

Durante muito tempo eu cri e ouvi dizer que: “ninguém sabe quem é verdadeiramente salvo, só Deus.” Mas ao ler o Evangelho com atenção, todos podemos saber quem são os que são chamados filhos de Deus. Como? Pelos seus frutos! Quem o diz é Cristo. 

Igrejas há muitas e pessoas que se dizem crentes também há muitas. Mas será que o fruto do Evangelho corresponde? Segundo Cristo, não é possível alguém receber o Evangelho, dizer que crê em Cristo e viver do mesmo modo como dantes ou apresentar frutos que não correspondem com o Evangelho. As uvas nascem da videira, não é possível nascerem uvas através de um espinheiro. Os figos nascem da figueira, não é possível nascerem figos através de ervas daninhas.

Assim também, quem nasce de Deus é filho de Deus e logo o fruto se vê, outra maneira de dizer é; quem nasce do Evangelho tem fruto do Evangelho, mas se o fruto é outro, não é possível que tenha nascido de Deus e do Evangelho. 

Dizer que se tem uma igreja com 2.000, 3.000, 400, 500, ou um milhão de pessoas, não significa que todos têm o fruto do Evangelho. Dizer que África ou outra parte do mundo milhões de pessoas foram evangelizadas, não significa, que elas verdadeiramente crêem no Evangelho, a não ser pelos frutos. Há casos de alguns evangelistas, que quando apresentam os números das salvações, são mais do que o país tem. É um dado curioso, a guerra dos números. Por isso, a mim, já nada me surpreende, pois ao longo destes 30 anos de Evangelho tenho visto coisas que nem ao diabo lembra. 

As igrejas, no modo geral, entraram numa “industrialização de novos convertidos”, isto é, criaram uma linha de montagem para a salvação. Na óptica dessas igrejas: “Temos de firmar os novos convertidos”. Só que este “firmar” foi ficando aguado e tornou-se em firmar os novos convertidos à  organização, à igreja, à tribo, ao clube, uma espécie de sócio pagante de dízimos, ofertas e muito mais. 

Na organização onde estive duas décadas, o firmar fazia-se do seguinte modo, penso que ainda é assim, ou até, com mais rigor! A pessoa é evangelizada na rua, recolhe-se os nomes, telefona-se para as pessoas, convidando-as a virem à igreja, ou os actuais membros, convidam pessoas a virem à igreja. Já na igreja, são levados ao que dizem: “Entregar a vida a Jesus”, a pessoa faz a oração da salvação, repete o que o pregador diz e logo é convidada a ser baptizada nas aguas, quanto mais depressa melhor, a seguir o novo convertido é convidado, estilo intimado, a começar o curso básico, que é pago, acabando esse curso passa logo ao seguinte, ao curso complementar, que também é pago. Acabando estes dois primeiros cursos, o novo convertido é convidado para fazer o curso de diáconos, pois há pressa em logo o colocar a “servir a Deus” na igreja local. Após isso, segue o convite para a escola bíblica, que dura 1 ano no mínimo, mas pode ir até 3 anos e claro também é pago uma mensalidade, para além de ter de comprar todos os livros e manuais do ministério, enquanto faz a escola bíblica e já serve na igreja local, também é inserido no Centro de Treino, mais outra mensalidade, para ser treinado e consagrado a presbítero, pastor ou até bispo. Isto é uma verdadeira “linha de montagem” de novos convertidos que rapidamente se tornam “servos do Senhor”, dizem! 

Em Mateus 23, Jesus estava zangado com os fariseus, porque eles faziam de tudo para converter pessoas ao judaísmo, fazendo “prosétilos”, isto é, converter pessoas que não eram judeus ao judaísmo, naquele caso, convertendo-os à lei de Moisés, no entanto, Jesus diz: “...fazeis filhos do inferno, duas vezes mais do que vós”. (Mateus 23:15)

É exactamente isso que andamos fazer durante décadas, a industrializar as conversões de tal modo, que em vez de fazermos discípulos de Jesus, andamos a fazer discípulos de organizações, formados em doutrinas e visões de homens.  Estas gerações de décadas, de pessoas sem o fruto do verdadeiro evangelho estão a dar grandes problemas à igreja actual e pior, se não estancarmos isto, vai ficar pior e o futuro não é nada risonho! Como Jesus disse aos fariseus, que estes prosélitos são duas vezes piores do que eles próprios. 

Tem de haver um profundo arrependimento, porque senão, se você não gosta do que há hoje, imagine o que será daqui a uns anos, ficará duas vezes pior. 

Este pessoal não tem Evangelho puro no coração! Não sabem nada do Evangelho. Só sabem recitar manuais de homens, cobrar mensalidades e vender livros. Para além daqueles que vendem o produto chamado Jesus Cristo. É uma vergonha! Aqueles que se opõem ao Evangelho terão duro juízo! Aqueles que fazem negócio com o Evangelho terão a sua parte no lago de fogo e enxofre. 

O apostolo Paulo diz em Gálatas 5:10 – “ ...mas, aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.” Paulo durante todo o livro de Gálatas fala dos opositores ao Evangelho e daqueles que trazem outro evangelho, por vontade de Paulo, esses, deviam ser todos cortados (Gálatas 5:12); essa também é a minha vontade, mas temos de deixar isso nas mãos de Deus, uma coisa é certa, condenação virá para esses. Jesus fala-nos do trigo e do joio, deixai crescer ambos até ao dia da ceifa. (Apocalipse 20:10). 

O fruto do Evangelho é o amor que pratica a justiça e ama a verdade.

Ainda no livro de Gálatas, Paulo explica a diferença, fala do amor, do gozo, da paz segundo o Espírito Santo, de sermos longânimos, benignos, bons, uns para os outros, da mansidão, da fé que pratica boas obras, contras estas coisas não há lei. (Gál.5:22-23) 

Ao contrário do que muitos pensam, erradamente, frutos não são riquezas, bens, dinheiro, luxo, hotéis, férias em lugares paradisíacos, para mostrar quão grande fé têm. Para depois andarem em esquemas, mentiras, no engano, nas cobranças, na murmuração, a julgar o próximo porque não têm o que você tem, a separarem famílias, abençoarem divórcios, falarem de púlpito o que não vivem, o que não praticam e o que não sabem, tudo menos Evangelho, apaixonados em suas concupiscências, alimentando ego narcisista, cobiçoso de glórias e invejando-se uns aos outros numa competição desenfreada! 

Por isso Jesus disse: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Mateus 7:22-23) 

Quem verdadeiramente crê tem o fruto verdadeiro, quem não crê, tem o fruto falso.

O fruto verdadeiro não consiste em ter, mas em ser, consiste em significado de ser. Posso não ter nada, mas ser à imagem de Cristo. 

Façamos discípulos de Jesus e não prosélitos!

 

Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo

14/01/2020