Hoje, dou razão ao meu amigo e familiar Rui Nascimento, tio da minha esposa, que a certa altura dizia: "que a maior parte das igrejas pentecostais e neo-pentecostais são instrumentos do diabo para danificar o Evangelho de Cristo." Na altura eu ficava triste com as suas palavras, hoje, concordo com ele 100%. Jesus dizia aos fariseus: “Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”. (João 8:44)

Hoje, infelizmente, a maioria deste tipo de igrejas têm dificuldade em se firmarem na verdade do Evangelho. O Espírito Santo foi substituído pelo espírito do imperialismo, da intimidação e dos amuletos. O sucesso deste tipo de igrejas tem como mãe a ignorância. 

Ao longo destes 30 anos de Evangelho, vejo a prática do Evangelho a degradar-se ao ponto de que hoje, Se Jesus estivesse presente lhes diria: “Raça de víboras! Como podeis falar coisas boas, sendo maus?” (Mateus 12:34) Falam de coisas que são boas, mas o espírito interno, o espírito que impera na organização é mau, é de origem satânica, porque o fruto não é bom, o fruto é o resultado de um jugo mau e de fardos pesados, o fruto é de um ambiente intimidatório, místico, imperialista. 

O ser humano carrega medo, todos temos medo de alguma coisa. Também carregamos culpa, a culpa e o medo está instalado em todos os seres humanos, fruto do pecado, não importa se a pessoa é crente ou não no Evangelho, todos temos o sentimento de medo e de culpa. Só o Evangelho de Cristo pode tirar e tornarmos livres, Cristo é o que tira o pecado do mundo. 

Mas infelizmente, a religião, descobriu que trabalhando em cima do medo e da culpa mantém as pessoas presas, dependentes do homem, da igreja, da organização, do templo e das doutrinas de homens. Uns estão conscientes disso, outros andam por ignorância. E é pelos que andam por ignorância que escrevo estas memórias, na tentativa de ajudar a sair da prisão, pois quanto aos que andam conscientes o fim deles é o lago de fogo e enxofre, lugar dos falsos apóstolos, falsos profetas, da besta, do filho da perdição e do diabo, bom como todos os que amam e praticam a mentira. 

Para os que andam ainda na ignorância, como eu andei, Paulo dizia aos Gálatas: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis outra vez a um jugo de escravidão”. (Galatas 5:1) 

Ainda esta semana ouvi, com muita tristeza minha, na igreja onde passei 5 anos da minha vida a tentar ajudar, uma mensagem baseada em significados de números, em puro misticismo, um autêntico "amuleto evangélico", sem base bíblica, apesar de lerem um ou dois versículos fora do contexto, que me deixou estupefacto, com muita vontade de partir as bancas, como Cristo partiu no Templo, aos cambiadores. O amuleto evangélico é tudo o que é usado para criar expectativas ás pessoas. Antigamente a minha mãe era muito dada a amuletos da sorte e nos fazia usar, medalinhas ungidas pelo bruxo, santas e santos de protecção, defumadores e cheiros esquisitos pela casa, a ferradura na porta de entrada da casa, enfim, tudo em nome da sorte, para espantar os maus espíritos e o mau olhado. 

O apostolo Paulo dizia a Tito: “Mas evita questões tolas, genealogias, contendas e debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs”.   (Tito 3:9)

Jesus Cristo disse: Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por sua exclusiva autoridade”. (Atos 1:7) 

O que há de igrejas por aí, que gostam de discutir sobre: épocas, datas, números, genealogias, significados, história judaica e não só, o alfabeto, as profecias, na tentativa de descobrir revelações profundas e ocultas, que só eles “os homens de Deus”, dizem, que sabem. Faz lembrar os filmes do tipo “código da Vinci”, este pessoal gosta do místico, eu diria que são os “salteadores da arca perdida do evangelho”. O interessante é que intimidam os ouvintes com estes discursos, com a sigla da desobediência e eles mesmos desobedecem a Cristo, quando Cristo nos diz: Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por sua exclusiva autoridade”. (Atos 1:7) 

Como dizia..., esta semana ouvi algo que não sei como classificar, o assunto é sobre o “Ano 2020, ano PeY”, dizem que: “O ano 2020 é o ano do pay ou pey, ano 80 no calendário judaico”, depois ligam a Moisés:”.  “porque Moisés tinha 80 anos quando foi usado por Deus para libertar o povo.” Transportam esse exemplo para hoje, porque este ano vai ser o ano da “boca de Deus”, Deus vai falar pelos seus profetas este ano 2020. Criam uma expectativa mística à volta do assunto,  quem crer e obedecer a tudo o que os profetas vão profetizar, prospera e tem a protecção divina, quem não crê vai ter um ano problemático. Dão um ar de sabedoria profunda, de uma revelação extraordinária. Vejam o que dizem: “Vai sair fogo da boca do leão, Deus fala com fogo este ano meus irmãos, através da boca dos seus ministros”. Referindo-se a eles mesmos, os ministros “especiais” na óptica deles, Deus os levantou para os dias de hoje. 

“E cuidado, porque o fogo vai consumir todos os rebeldes, cuidado porque virá ondas do Espírito de Deus que se vai derramar para limpar todo o pecado, portanto meus irmãos, preparai-vos para o que vem aí. O ano 2020 é símbolo das duas mãos de Deus, 20 significa uma das mãos de Deus e os outros 20 é a outra mão de Deus, assim sendo, as duas mãos de Deus vão estar levantadas este ano. Sabem o que isto significa meus irmãos?”

Eu digo: “Não significa nada, pois andam a ver muitos filmes.” O leitor acha que Deus anda de mãos levantadas este ano todo???? enfim...o que dizer... 

Reparem como este discurso não tem pés e nem cabeça, ele é acompanhado pelo espírito do imperialismo (só alguns ministros é que falam por Deus, no caso eles e outros poucos); é carregado de intimidação (Cuidado porque quem for rebelde é limpo, no sentido de que Deus vai limpara a igreja, assim só ficam os santos, na óptica deles); e está cheio de misticismo (simbologia e numerologia de que nada serve). 

O povo aplaude, diz amém, porque não conhecem o Evangelho e têm medo, porque podem ficar amaldiçoados se não derem ouvidos ao “homem de Deus”, pois eles receberam uma nova revelação, estava oculta, mas que Deus teve a necessidade de revelar agora, pois o que Cristo falou não chega, não é suficiente. Que tristeza, que pobreza de espírito! 

Este é um bom exemplo de um “amuleto evangélico” carregado do espírito imperialista e de intimidação. Um “amuleto evangélico” é uma expectativa rodeada de revelações que prometem protecção e bênção para os que acreditam e maldições para os que não acreditam e desobedecem ao “homem de Deus”. 

Neste tipo de igrejas, todos os anos, são anos de qualquer coisa, os líderes têm o hábito de fazerem reuniões de fins de ano, das viradas, sempre com anúncios e actos proféticos de algo que vai acontecer, ou o ano que passou foi mau e agora este vai ser bom, se foi bom, este vai ser ainda melhor, mas, lá vêm o mas....tem sempre um mas...este mas, é a intimidação colocada como jugo na vida das pessoas que frequentam este tipo de igrejas. É o “mas” da Obediência! Tens de sacrificar, tens de servir mais a Deus na igreja, tens de dar mais, é o dizimo, é a oferta, é a oferta especial, é a oferta dos empresários, é a oferta para o canal de tv, é vir a todas as reuniões e convenções, as pessoas temem perder a salvação, temem ir para o inferno, temem por ficarem amaldiçoadas e morrerem de cancro ou perder dinheiro. E porque temem? Porque verdadeiramente não estão livres e carregam culpa! Nunca nada é suficiente para agradar a Deus, temos de estar constantemente a fazer coisas para agradar a Deus. 

O temor do Senhor não é medo nem intimidação. O temor do Senhor é uma escolha e não uma imposição. Jesus Cristo disse: “Tomai o meu jugo...” Ele não obriga, ele não intimida, apenas ensina. (Mateus 11:28-30) 

Muitas das lideranças de hoje caiem na tentação de fazerem o mesmo que os fariseus faziam, gostam de se sentarem na “cadeira de Moisés”; eles falam bem, mas não praticam, impõe jugo nas pessoas e esquecem-se de praticar o amor, a misericórdia, a justiça e a fé. (Mateus 23). 

Em Mateus 18, Jesus dizia: “Se teu irmão pecar contra ti, vai e, em particular com ele, conversem sobre a falta que cometeu. Se ele te der ouvidos, ganhaste a teu irmão...”

Esta passagem é sempre vista do ponto de vista de quem está sentado na cadeira de Moisés; isto é, de líder para liderado, mas Jesus não disse isso, Jesus disse: “Se teu irmão pecar contra ti...” 

Os pastores e lideres das igrejas são irmãos em Cristo, não são mais nem menos do que todos os membros, se um líder pecar contra mim, eu tenho todo o direito de contestar e falar com ele, e se mesmo com testemunhas o líder não mudar de atitude e do erro, eu tenho todo o direito de considerar esse líder como Pagão e Publicano...a igreja não é o nome da congregação, a igreja não é a cadeira do Moisés, a igreja são pessoas lavadas e perdoadas de seus pecados pelo sangue de Cristo na cruz do Calvário. 

Foi criado a ideia, de que as falhas são sempre dos liderados, porque não querem obedecer ás regras e às suas doutrinas, esse é o espírito do imperialismo! O que se senta na cadeira de Moisés faz o papel de Imperador, o Imperador tem sempre razão! Ora isso é falso. 

Por onde passei, tive que conversar e conversei várias vezes, com os líderes da denominação, como irmão, de que fui prejudicado pelo pecado do líder. Tendo testemunhas, mas não me deram ouvidos e assim sendo, me desliguei, dei tempo, mas não quiseram saber. Nestes casos não há nada a fazer, quem tem de sair é sempre o liderado, porque os donos das denominações nunca saem, a não ser por morte. Normalmente são presidentes vitalícios das denominações! Saio de consciência tranquila, sem medo, sem medo das maldições, porque eu sei quem sou em Cristo, sei o que o Evangelho fala. Já decidi à muito tempo, que dou a vida pelo Evangelho e não mais pela denominação ou homem algum. 

Eu já fui bastante ignorante acerca do Evangelho de Cristo, é mau, mas não tem mal reconhecer. Graças a Deus, que Deus me deu a graça de reconhecer a minha ignorância e partir para o conhecimento do filho de Deus, Cristo! Não sei tudo, ainda bem, mas sei que não é mais o imperialismo, o misticismo e muito menos a intimidação que quero seguir, pois o fruto é mau. 

Deixo um alerta a todos, se estás debaixo deste espírito, deste modus operandis, te digo que estás debaixo de tudo menos do Evangelho de Cristo. Pode ter nome de Evangelho, mas se o fruto é a intimidação, o medo, a manipulação, o jugo mau, então esse não é fruto do Evangelho. O fruto do Evangelho é amor, justiça, paz, alegria de Espírito, fé, mansidão, temperança e uma vida cheia de partilha ao próximo! 

Esta semana recebi várias mensagens de pessoas que têm acompanhado as minhas memórias de 30 anos de Evangelho, que me dão parabéns pela ousadia de escrever o que escrevo, mas noto, pelo modo que me escrevem, um medo latente de estarem a falar comigo, medo que alguém da sua igreja venha a saber, o medo de que a família venha a saber e depois cortam relacionamentos, porque dizem, que falas com um rebelde. 

Mais uma vez vemos o fruto mau, o medo que provoca no coração das pessoas, quando falam com alguém que fala a verdade e sabem que fala a verdade, eles sabem que eu falo a verdade, mas estão amarrados à intimidação, porque se eu sair a minha filha o meu filho não me fala mais, se eu sair, deixo de ver os meus netos, se eu sair também serei visto(a) como um rebelde. O medo de perder, o medo da maldição, o medo de deixar de dar o dizimo, o medo de deixar de servir a congregação, o medo, o medo e o medo! Mas que fruto é esse? Que Evangelho é esse? 

O pai desse evangelho é o diabo e a mãe é a ignorância!

Quem conhece realmente a mente de Cristo, não tem medo.

“O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade” (II Cor.3:17). 

Este tipo de igrejas e de líderes têm medo da liberdade, não sabem viver e fazer viver outros em liberdade, por isso, têm a necessidade de controlarem as pessoas. Mas também, as pessoas são culpadas, porque não sabem viver em liberdade e se dão a rédeas curtas, gostam da pressão, gostam do jugo que lhes é imposto, porque sentem que estão a cumprir, sentem que quando obedecem à dita visão, mesmo que acham algo esquisito, elas têm o sentimento de que estão a fazer algo que agrada a Deus, na óptica do povo, o sacrifício agrada a Deus, o deixar de fazer a minha vontade para fazer a vontade do líder, agrada a Deus, confundem a vontade de Deus com a vontade do líder e da visão da organização. 

A nossa necessidade de sentir que Deus nos ama, de que Deus está contente, de que Deus nos aprova é o que nos derrota e nos escraviza a este espírito: “Preciso de sentir Deus, preciso que o líder me toque na fila da oração, me aceite, preciso de sentir a presença de Deus no louvor, preciso de sentir, sentir, sentir...Se eu servir mais a Deus na igreja, mais ele fica contente comigo.”  É a culpa a falar, porque na verdade ainda não cremos no Evangelho de Cristo: "Ele levou sobre si toda a nossa culpa".

Daí que os amuletos, os toques, os óleos da unção, o vinho e agua mexida pela mão do apostolo, os sacrifícios, as revelações ocultas, as doutrinações e os scripts doutrinais, a vestimenta, as luzes de palco, os fumos, a música que arrepia, o misticismo em torno da volta de Cristo, tentar advinhar o tempo da sua volta, toda esta parafernalha de sentimentos místicos é ainda a herança do catolicismo romano e do envolvimento com o espiritismo e a bruxaria do passado, que na verdade ainda não saiu do coração de muitos!  

Termino com o que Jesus disse aos seus discípulos: “Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar”. (João 14:27).

 

Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo

13/01/2020