Existe em Portugal uma questão cultural que até hoje, muitos lidam mal com o assunto, o mau olhado! O medo da maldição! O medo que as coisas possam correr mal. É por isso que, para muitos, baptizar o filho(a) o mais rápido possível é visto como algo urgente e importante a fazer, para que a criança fique livre de qualquer tipo de “mau olhado”. O medo da inveja, o medo das pragas, o medo das doenças e o medo da falta de dinheiro, levam as pessoas a agirem de um modo que roça quase a insanidade. Lembro-me da minha mãe, ela tinha uma obsessão sobre este assunto medonha, chegava ao ponto de procurar pessoas chamadas “virtuosas” para benzer ou ungir a roupa interior de todos lá em casa. Inclusive eu andava com certos amuletos e saquinhos cheios de dentes de alho e cebola espetados com alfinetes na minha roupa interior, para afastar o dito “mau olhado”. Cheguei ao ponto de ter vergonha de ir para a escola, pois cheirava a alho por todo lado. Ridículo não é? Pois é. Tudo fruto de uma cultura portuguesa imersa no Catolicismo e Paganismo.
Entretanto vim conhecer o Evangelho de Jesus Cristo fora do Catolicismo, e aprendi muito sobre o assunto á luz da bíblia sagrada. E hoje verifico que este problema do tal dito “mau olhado”, continua não só no Catolicismo, mas para surpresa minha, também ENTROU nas igrejas ditas “evangélicas, pentecostais, neo-pentecostais, etc”. O princípio do “mau olhado” é o mesmo, agora é o medo de ser amaldiçoado: “Cuidado, podes ser amaldiçoado”. Este é o novo “mau olhado” que invade igrejas por toda a parte do mundo e fomentado pelas próprias lideranças. As conversas são iguais em toda a parte, vou dar alguns exemplos: “ Cuidado, se sais da igreja sem dizer nada, vem a maldição” ou então, mais refinado ainda é: “ Eu não amaldiçoo ninguém, MAS, se acontecer algo mau, depois não venham dizer que não os avisei”, ou então caso aconteça algo menos bom com algum membro: “Eu disse-te, isso aconteceu, porque desobedeceste a Deus, e como não praticaste a palavra de Deus, vieram esses problemas. Estás debaixo de maldição, arrepende-te”, depois existem, aquelas expressões que eu considero "maquiavélico": “Cuidado com o fulano de tal que saiu da igreja, não tenhas comunhão com ele, porque senão podes ficar amaldiçoado”.
Infelizmente esta é o dia a dia de muitas igrejas, só confusões. A falta de conhecimento das sagradas escrituras é que promove este tipo de discursos.
Todos aqueles que me conhecem e que acompanharam meu percurso como cristão, sabem por quais igrejas eu passei e trabalhei. Em todas as igrejas por onde passei, tive a honra de conhecer muitas pessoas, a honra de trabalhar com pessoas fantásticas, das quais estarei sempre muito grato a Deus. Aprendi com todos! Mas há algo que tenho de dizer, que me entristece profundamente e que, em nada abona o evangelho de Jesus Cristo. É o modo como lidamos com as pessoas que saem ou se despedem de uma igreja. Normalmente, quase 99,9% dos casos, quem saí, é visto como uma pessoa NÃO GRATA! Uma pessoa que todos devem evitar de falar: "agora que saiu e já não pertence a nós, Cuidado!" Toda a congregação é avisada para se ter muito cuidado, pois “podemos ficar amaldiçoados" se convivermos com essa pessoa”.
Esquecem totalmente dos anos que essa pessoa deu em prol do evangelho e em prol do crescimento da igreja, de repente, deixamos de ser bênção e somos um grande problema. Infelizmente é cultural, é o tal da memória curta.
Lembro-me que quando saí da igreja Maná, uma igreja que respeito, mas que chegou o dia que decidi sair, logo, ao fim de algumas semanas, certos membros dessa igreja, me telefonaram a tentarem certificar, se tinha alguma doença maligna? Esta "coisa da maldição" está tão enraizada na mente dos cristãos, que quem saí, saí já com o "carimbo" de amaldiçoado. Dizem eles, é uma questão de tempo, tudo vai correr mal para a pessoa que sai, e se por qualquer motivo, algo, não corre tão bem, lá vem as frases: “Eu não disse? estão a ver? "
Graças ao bom Deus, que eu sei quem sou em Cristo, sou um filho de Deus, salvo pela graça de Deus através do evangelho de Jesus Cristo, quem tem o poder de Deus para a Salvação. (Rom.1:16-17)
E porque sei quem sou em Cristo, sei que nenhum homem, seja qual for o título que tenha, tem o poder para me abençoar ou para me amaldiçoar. Quem me abençoa é Deus, e se Deus, que é soberano, achar que eu não sou digno de ser abençoado, é Ele quem decide isso e não os homens.
A bíblia sagrada diz em Deuterenómio 28:1-68, que quem nos abençoa, ou quem nos pode amaldiçoar é Deus e mais ninguém. Se nós dermos ouvidos a Deus, e se fizermos o que ele nos pede, então, Ele nos abençoa, somos abençoados ao ENTRAR e ao SAIR.
Quando eu entro numa igreja sou abençoado, e quando saio de uma igreja sou abençoado. Por quem? Por Deus. Só há uma coisa que pode-me trazer problemas, é se eu deixar de ouvir a Deus, deixar de praticar o que ele me pede através da Sua Palavra. Eu posso estar numa igreja a vida toda, mas se eu não dou ouvidos a Deus, posso vir a ter muitos problemas, a tal da maldição. Como, também, posso estar fora de uma igreja ou andar de igreja em igreja, mas se eu der ouvidos à Palavra de Deus e praticá-la, ele me vai abençoar. Ele me abençoa não porque estou numa igreja, mas porque sou praticante da Sua Palavra (Mateus 7:24-28).
Perguntam-me: "É contra igrejas e homens de Deus?", claro que não, sou a favor de que todo o cristão deve congregar. Mas não é ter um pastor ou fazer parte de uma congregação que me pode abençoar? Claro que não. Não é a igreja XPTO que te abençoa ou amaldiçoa. Não é o Homem de Deus XPTO que te abençoa ou amaldiçoa, mas sim Deus.
Assim também, não é o título de um pastor ou apostolo que pode ou não abençoar as pessoas. Jesus Cristo quando andou aqui na terra, era chamado por: "Filho de Deus, Filho do Homem, O Carpinteiro, e até chegaram a chamar príncipe dos demónios". Eu pergunto: Algum destes títulos foi impedimento de fazer a vontade de Deus? Claro que não. Nada travou a Jesus de fazer o que foi chamado a fazer. Ás vezes eu fico perplexo com os títulos e os nomes das bênçãos que se usam: " A bênção apostólica, a bênção profética, a bênção da agua de Jerusalém, a bênção das pedras do rio Jordão, etc."...eu cá, me basta a bênção de Deus, que é Ele que me abençoa na sua grande misericórdia.
Infelizmente, estes tipos de discursos têm manipulado milhares de pessoas em todo o mundo. Feitos cativos a doutrinas de homens. “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:8-9) e Jesus ainda disse mais: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas, o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”.(Mateus 15:11)
Têm saído da boca de os ditos “homens de Deus” que contamina mais do que ajuda. Palavras absolutamente maliciosas e manipuladoras. Com o objectivo de manter as pessoas amarradas a uma denominação. É interessante, que se alguém entrar na igreja é bem vindo e fazem uma festa, e não importa de onde vêem. Mas se alguém quiser sair, “Aqui Del REI”. É logo um Problema. Lá vêem os discursos justificatórios, e é sempre para denegrir a imagem de quem sai. É triste, e é por isso que muitas igrejas andam contaminadas, pelas palavras que saem da boca dessas pessoas.
É por isso que Jesus Cristo, confrontou muito os fariseus e os escribas, os doutores da lei. Porque eles imponham um jugo muito forte nas pessoas. Hoje verifico que nada mudou, continua o jugo.
Se me perguntarem: “Acha bem as pessoas saírem de uma igreja e não darem conhecimento ao pastor ” Eu respondo que: “não acho bem”. Agora, pensar que tenho de fazer isso, para poder sair da igreja com a bênção do pastor, com medo de que a maldição possa vir? Isso é que é ridículo e não é bíblico. Porque volto a dizer: “É Deus que abençoa o meu sair e o meu entrar”. O que está a faltar nas igrejas é o bom senso e a boa educação. É evidente que a pessoa deve comunicar ao pastor, que foi pastor dela durante um tempo, da sua intenção de sair. Não precisamos de fazer nada ás escondidas. E também é evidente que o pastor, o que tem de fazer é orar pela pessoa e desejar as melhores das felicidades. Qual é pois a complexidade disto? Nenhuma. O Evangelho é simples, mas nós gostamos de complicar.
As ovelhas são de Jesus, e o Pastor delas é Jesus Cristo! (João 10).
Deus abençoe!
José Fidalgo