O versículo que mais tempo demorei a entender é o que vem escrito na primeira carta de Paulo aos Coríntios.
“E, ainda que distribuísse toda a minha fortuna, para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” (I Cor.13:3)
Durante décadas este versículo não me fazia sentido, pois se alguém chega ao ponto de doar toda a sua fortuna, para sustento dos pobres e mesmo assim é considerado como não tendo amor, ou do mesmo modo, chegar ao ponto de dar o seu corpo para ser queimado em prol ou defesa de algo ou de alguém e mesmo assim é considerado como não tendo amor, sempre me fez “espécie”.
Até que, com o tempo fui percebendo a amplitude que Paulo dava ao assunto. O amor é um tema muito interessante, cada um de nós pode ter uma interpretação sobre o que é o amor. Mas o amor segundo Deus, é um amor que vai para além do nosso olhar. Na verdade, tudo começa no coração do homem, no mais profundo do nosso íntimo. O único que conhece o nosso coração, melhor que nós mesmos é Deus.
O ser humano é perito na arte da ilusão, mas Deus é perito na arte da verdade.
O profeta Jeremias dizia, debaixo de inspiração, uma das maiores verdades de sempre: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações. (Jer.17:9-10)
Não é possível ter bons pensamentos, tendo o coração cheio de malícia. O mesmo Jeremias dizia: “Lava o teu coração da malícia”. (Jer.4:14). Assim como não é possível amar com o coração cheio de malícia. Hoje, “ama-se” com malicia! Quem assim procede, como Paulo diz: “não tem amor”.
Neste Euro 2020, realizado em 2021, é um bom exemplo disso, amar com um coração cheio de malicia. As campanhas que se fazem contra o racismo, homofobia, etc, revelam o tal versículo: “E, ainda que distribuísse toda a minha fortuna, para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” Gastam-se fortunas, para convencer as pessoas a respeitar o ser humano e as suas escolhas, mas no íntimo da maioria, a malicia continua. Basta verificar o que aconteceu aos 3 jogadores negros que falharam as penalidades, os discursos racistas que vieram logo, a violência que se gerou após o jogo Inglaterra X Itália, até mesmo o príncipe William que repudiou os comentários racistas, mas faz parte de uma família real, que não vê com bons olhos a mulher e filho do seu irmão que têm a pele mais escura.
Muitos têm atos de amor e frases bonitas, onde repudiam o racismo, a homofobia, mas no interior, no mais íntimo do seu coração, o racismo e a homofobia continua lá. Bem que Jeremias dizia: “Lava o teu coração da malícia”.
Só Jesus Cristo tem poder para lavar o nosso coração.
No Evangelho, encontramos o poder de Deus que nos faz amar sem malícia. Podemos ter uma cara tranquila para o exterior e interiormente viver cheios de inquietação e perturbação.
Sem nascer de novo, não é possível amar, como Deus ama.
José Fidalgo
13/07/2021