Antes de tomar a decisão de pedir a minha demissão da igreja Maná, reuni os meus filhos, os meus pais, os meus sogros e comuniquei a minha decisão. Disse-lhes que era irrevogável, mas, no entanto todos eles eram livres de continuarem na igreja Maná, caso desejassem, inclusive os meus filhos, pois a decisão era apenas minha e da minha esposa. Na altura a minha filha Raquel e marido decidiram que iriam continuar na igreja Maná de Évora, eles viviam em Évora, mas que estavam do nosso lado para nos apoiar no que fosse preciso, o mesmo disseram meus pais e sogros.
Na semana após nossa saída, dois pastores, deslocam-se à igreja Maná de Évora para lerem uma carta do apostolo pastor e presidente da igreja Maná. A minha Raquel e o seu marido estavam nessa reunião, uma comunicação à igreja para explicar os motivos porque eu e minha mulher saímos da igreja Maná. Não sei de onde inventaram tantas mentiras ao ponto da minha filha, que conhece bem os pais que tem, não aguentou e sai da reunião aos prantos a chorar por tantas mentiras que disseram sobre mim. Se tudo o que disseram fosse a verdade, tinham matéria mais que suficiente para me porem em tribunal e mandarem-me prender. Nessa noite, minha filha e marido comunicam o pastor que estava a assumir a minha substituição, que não iriam mais frequentar a igreja Maná.
Eu já estava à espera que assim o fizessem, pois é o “modus operandis” , sempre que alguém sai da igreja, tenta-se denegrir a imagem da pessoa que sai, para ficar a ideia de que o “mau da fita” são sempre os que saem e assim se coloca a dúvida no ar: “Roubou a igreja” ou então: “Foi pecado de adultério ou simplesmente é um rebelde, estavam em pecado por isso é que o ministério não ia bem, Deus está a fazer uma limpeza, agora vamos ficar melhor do que nunca”. Para dar veracidade a estes pensamentos, lêem cartas apostólicas, de repente a igreja começa a ver os projectos autorizados, antes não se podia comprar um parafuso, agora já se pode tudo, para dar a entender que de facto quem saiu era o problema, era o motivo de Deus não abençoar. Dou graças a Deus, porque posso dizer, por onde passei, recebi igrejas vazias e entreguei-as sempre cheias com os alvos todos atingidos. Por este ministério Maná, passaram tantos homens e mulheres de qualidade, mas que foram tão mal tratados! Apenas dou o exemplo da minha querida e saudosa Maria Emília, uma mulher que deu tanto de si, e como foi posta de parte, abandonada num gabinete. Que Deus tenha misericórdia de todos nós! Porque vai chegar o dia, vamos, todos, prestar contas a Deus, aí nada ficará oculto ou por contar.
Passado algumas semanas, recebo telefonemas, uns era saber se eu e a minha mulher estávamos bem de saúde, pois tinham ouvido dizer, que estávamos a morrer com cancro. Estas ideias surgem por causa da doutrina da maldição, quem sai da igreja sai amaldiçoado e pode morrer rápido. Eu sei que um dia terei que morrer, mas graças a Deus estou muito bem de saúde. Outros telefonemas era para saber se ia abrir uma igreja minha. Respondi que não. Porque se fosse abrir uma igreja, provavelmente seria igual à Maná. Eu precisava de uma purga, desintoxicação. Eu sabia que não estava bem, eu não queria viver o tipo de evangelho que a Maná vive. Esse tem sido o erro de alguns colegas meus que saíram da Maná e foram abrir igrejas, copiar os métodos da igreja Maná e isso, eu não quero mais para a minha vida. Talvez o leitor pense: “Ele é mesmo do contra, ele é contra tudo o que é da Maná”. Eu sou contra ao fruto que se tem gerado! Pois andamos a fazer prosélitos em vez de verdadeiras conversões a Cristo.
Quero partilhar um texto fantástico de alguém que gosto muito, mas que tem sido muito odiado no Brasil, texto de Caio Fábio. O que ele escreve no texto abaixo é de uma realidade pura e assustadora, será que andamos mesmo a converter pessoas a Cristo, ao Evangelho? Passo a citar:
“Todos os dias encontro pessoas que vivem como bem entendem, mas desejam assim mesmo as bênçãos do Evangelho. O ardil é simples: A pessoa não lê a Palavra [exceto em reuniões públicas e a fim de basear o discurso de algum pregador], não conhece Jesus [exceto como nome poderoso nas bocas dos faladores de Deus], não ora [exceto dando gritos de apoio às orações coletivas], não pratica a Palavra [exceto a palavra do profeta do grupo, ou do bispo ou autoridade religiosa da prosperidade ou da maldição], não se compromete com o Evangelho [exceto como dízimo e dinheiro no “Banco de Deus”: a “igreja”]; e, de Jesus, nada sabe; pois, de fato, nada Dele experimenta [exceto como medo].
Entretanto, a pessoa fica pensando que o Evangelho que ela nem sabe o que é haverá de abençoá-la em razão de que ela está sempre no “endereço de Deus”: o templo da “igreja”.
Assim, vivem como pagãos em nome “de um certo Jesus” que não é Jesus conforme o Evangelho; e, mesmo assim, seguem “um evangelho” que não é Evangelho, para, então, depois de um tempo, acharem que o Evangelho não tem poder, posto que acham que já o provaram e de nada adiantou; sem saberem que de fato deram suas vidas a uma miragem, a um estelionato, a uma fantasia de “Deus”.
Milhões pronunciam o nome de Jesus, mas poucos o conhecem numa relação pessoal!
Na realidade o que vejo são pessoas estudando teologia sem conhecerem a Deus; entregando-se ao ministério sem experiência do amor de Deus em si mesmas; brigando pela “igreja” [como grupo de afinidades] sem amarem o Corpo de Cristo em seu real significado; pregando “a mensagem da visão da igreja” julgando que tem algo a ver com a Palavra de Jesus [apenas porque o nome “Jesus” recheia os discursos].
E mais: os que aparentemente sabem o que é o Evangelho e quais são as suas implicações, ou não querem as implicações para as suas vidas pessoais, ou, em outras ocasiões, não querem a sua prática em razão de que ela acabaria com o “poder” de bruxos que exercem sobre o povo.
Assim, vão se enganando enquanto enganam!
O final é trágico: vivem sem Deus e ensinam as pessoas a viverem na mesma aridez sem Deus na vida!
O amor à Bíblia como livro mágico acabou com o amor à Palavra como espírito e vida!
Não se lê mais a Palavra. As pessoas levam a Bíblia aos “cultos” apenas para figurar na coreografia e na cenografia da reunião — nada mais!
Oração em casa, sozinho, com a porta fechada, e como algo do amor e da intimidade com Deus, quase mais ninguém pratica!
Ora, enquanto as pessoas não voltarem a ler a Palavra, especialmente o Novo Testamento, jamais crescerão em entendimento e jamais provarão o benefício do Evangelho como Boa Nova em suas vidas.
Há até os que depois de um tempo julgam que o Evangelho é fracassado em razão da “igreja” estar fracassada.
Para tais pessoas a “igreja” não é apenas a “representante de Deus”, mas, também, é o próprio Evangelho!
Que tragédia: um Deus que se faz representar pelo coletivo da doença do “Cristianismo” e que tem “igreja” a encarnação de um evangelho que é a própria negação do ensino de Jesus!
O que esperar como bem para tal povo?
Ora, se não tiverem o entendimento aberto, o que lhes aguarda é apenas frustração, tristeza e profundo cinismo.
Quem puder entender o que aqui digo, faço-o para o seu próprio bem!
Nele, que não é quem dizem que Ele é, (CAIO FABIO)
Não admira o aumento de casos de suicídios no meio dos cristãos.
Mas o meu maior choque foi quando, nesse mesmo ano, que saímos da igreja Maná, eu e a minha esposa fizemos uma viagem aos EUA. Ficamos em casa dos tios dela, Rui e Leonor Nascimento, dos quais só tenho coisas boas a dizer deles, e uma gratidão enorme pelo modo como sempre nos recebem em casa deles. Eles nos levaram a uma conferência só para pastores e líderes de igreja, organizado pela da igreja Baptista, mas antes do evento, levaram-nos a uma cidade no estado de Pensilvânia, Lancaster, onde se encontra a réplica do tabernáculo de Moisés. Para entrar nesse tabernáculo, temos de ser acompanhados por um guia, que nos explica como tudo funciona à luz da bíblia. Quando chegou à parte do sumo-sacerdote e das vestes do mesmo, eu verifiquei que o guia esqueceu-se de mencionar sobre as cordas que eles levavam atadas à cintura, no caso o sumo-sacerdote morrer no lugar santo dos santos, seria puxado para fora. E para minha admiração, o guia disse-me que nunca existiu as cordas e nunca nem sumo-sacerdote morreu, não há registo disso na Bíblia.
Fiquei perplexo e disse-lhe: “Há sim, vou ao carro buscar a minha Bíblia e vou-lhe mostrar”- Fui ao carro, comecei a desfolhar a Bíblia à procura das cordas, desfolhei, desfolhei e nada. Apanhei o maior choque da minha vida! Porque me foi ensinado que tinham, ainda por cima, me ensinaram numa escola Bíblica e ouvi de muitos pregadores de renome mundial. Afinal é mentira!
Eu chorei o dia todo, sem exagerar, estava de rastos, você pergunta: “por causa das cordas?”. Sim, porque eu pensei assim: “Se eu estava enganado sobre este assunto, em que assuntos mais estarei eu enganado?” Este foi o meu susto. O primeiro pensamento que veio à mente foi: “Não quero saber mais de igreja nenhuma, estou farto!” Mas depois, à medida que minha mente foi arrefecendo, comecei a reflectir, de facto eu sou o maior responsável pelo meu estado, porque ouvia os que os pregadores ensinavam, mas não verificava na Bíblia, se era mesmo assim como dizem.
Eu não posso responsabilizar apenas o apostolo Jorge Tadeu e todos os professores que ensinaram na Escola Bíblica, eu não posso responsabilizar apenas os pregadores que oiço e que ensinam coisas em nome de Deus, mas eu tenho que me responsabilizar, porque eu graças a Deus, sei ler, tenho uma Bíblia, na verdade, várias, pois a minha esposa gosta de ter e tem muitas Bíblias e não estava a confirmar o que andavam a ensinar. Na verdade, confesso, que fazia anos que não lia a Bíblia, apenas lia livros e manuais de mensagens pré-feitas, pré-fabricadas. Eu estava chocado comigo mesmo, como foi possível?
Precisava urgentemente de uma purga, de um reset, de um começar de novo, de um nascer de novo. Fiz uma oração, daquelas que não nos esquecemos, pedi perdão a Deus e pedi-lhe por favor que me ajudasse a ver a verdade do Evangelho de Jesus Cristo. Também, tomei outra decisão, todos os manuais e livros do passado, livros de Jorge Tadeu, livros de Kenneth Hagin, Livros e Manuais de vários pregadores, da escola da Rhema, de outras escolas, deitei tudo no lixo. Comprei uma Bíblia nova, João Ferreira de Almeida, sem comentários, sem dicionário, sem anotações e achos de ninguém e comecei a ler o Evangelho de seguida, como se o lesse pela primeira vez.
Pedi ajuda ao melhor professor de todos, o Espírito Santo de Deus, sempre que vou ler a Bíblia, peço ao Espírito Santo que me ajude a entender. Nasci de novo, comecei a ver coisas que nunca tinha visto, descobri, ao ler o Evangelho, o quanto andava errado, em crenças e direcções de homens. Nasci de Novo! Os leitores não imaginam o que aprendemos só pelo simples facto de ler a Bíblia devagar, com atenção, atenção à pontuação, ao contexto, porque há tanta riqueza nas sagradas escrituras que as escolas bíblicas não estão a ensinar.
As escolas e os institutos estão standerizados na cultura de cada movimento, elas não ensinam o Evangelho, elas ensinam e manipulam o que o ministério acredita para ser padrão de ensino nas igrejas. Esse é o perigo de muitos institutos e escolas bíblicas, é como as redacções dos jornais, existem as linhas editoriais, as escolas biblicas são as linhas editoriais das igrejas que as contratam, formatando os alunos nas ideias que querem direccionar, condicionando assim a revelação que a palavra de Deus nos dá, pelo Espírito Santo de Deus.
Hoje, não tenho muitos amigos pastores, lideres, porque aquilo que creio ao ler a Bíblia vai muito contra o que está institucionalizado. Mas o que fazer? Eu decidi romper com tudo o que nos condiciona, somente quero ser condicionado pelo Evangelho puro de Jesus Cristo.
Memórias de 30 anos de Evangelho - José Fidalgo
19/12/2019