Estávamos num impasse, o que fazer, o que decidir? Várias famílias telefonavam, outras nos visitavam e diziam: “Não se vão embora...”; e outras palavras que não quero mencionar aqui, que nos davam força. Mas certo dia, uma família que nos é muito querida, só não menciono o nome deles, porque desde o inicio que eles me pediram para que a acção deles ficasse apenas entre nós, chama-nos e falam palavras, agem de um modo tão generoso, que nunca vou conseguir retribuir o suficiente com tanto bem que nos desejaram e fizeram. Esta família faz-me lembrar o que aconteceu a Job que vem registado no livro de Job capitulo 42:10-17 (ler com atenção).
Tudo isto estava a acontecer, e eu tinha que tomar uma decisão. A pior coisa, que nos pode acontecer é viver indeciso. Daí que me lembrei, quando andei no exército, os meus comandantes diziam: “Mais vale tomar uma decisão, mesmo que seja errada, do que não fazer nada.” E foi o que fiz. Falei com a Célia, conversamos muito com os nossos filhos, noites seguidas a conversar, até que decidi: “Ficamos em Portugal, vamos iniciar um grupo, uma igreja para partilhar o Evangelho de Jesus Cristo”.
Parece que uma nuvem negra que pairava sobre nós saiu. Vi um alivio na cara dos meus filhos, apesar de que alguns já estavam mentalizados em ir viver para os Estados Unidos. Mas esta decisão motivou a conversas sentados à mesa, como fazer? Onde vai ser? Que nome vamos dar à igreja?
Até que uma das minhas filhas, a Jéssica, que saiu muito em baixo com a história da Renovo, sugere: “Lighthouse”, em português, farol. De repente o nome caiu bem, uma luz no meio da escuridão, que ilumina o caminho para que os barcos não se partem nas rochas. Assim ficou o nome, alguém dirá: “porquê em inglês?” eu digo: “porque não”. Há palavras em inglês que têm mais força do que em português.
Tudo aconteceu rápido, a partir da decisão, apareceram as instalações certas, os equipamentos, enfim...e a 4 de Março de 2018 inauguramos a igreja Lighthouse. Fomos agraciados nesse dia com a visita de muitos convidados, quero agradecer ao pastor Eddie Fernandes e João Viegas o apoio que nos deram no dia da inauguração, ofereceram alguns equipamentos de som que até hoje funcionam, e tantos amigos que fizeram questão de estar presentes.
Alguém pode perguntar: “Mas você já passou por tanto...” Há algo que muitos podem não compreender, o amor que tenho pelo Evangelho de Cristo é enorme, a gratidão que tenho pela minha salvação é tremenda e aquele encontro, fora do hospital, estando a minha irmã Susana em coma, aquele dia, ninguém consegue entendê-lo a não ser eu mesmo. Portanto, não vale a pena alguém tentar calar-me, porque até morrer irei pregar e viver o Evangelho na melhor pureza que possa compreende-lo. Não tenho problema nenhum de mudar quando vejo que estou errado.
A responsabilidade é ainda maior, porque agora não tenho nenhum pastor acima de mim a dizer o que tenho de fazer, mas tenho as pessoas que Deus tem juntado à igreja Lighthouse, a responsabilidade de passar a eles o Evangelho da melhor pureza que possamos passar. Sei que não somos perfeitos e que errei muitas vezes, sei que ao longo da minha história que narrei nestes pequenos capítulos das minhas memórias de 30 anos de Evangelho, magoei pessoas, disse coisas que nunca devia ter dito, preguei mensagens que hoje me arrependo, que Deus tenha misericórdia! Já consegui, com aqueles que me foi possível, pedir perdão pelos erros que cometi.
“E agora o que espera do futuro?”
Não sei, para já, graças a Deus estamos com um bom problema, a sala está pequena e procuramos novas instalações. A igreja Lighthouse não é um instrumento para provar alguém seja o que for. Se assim fosse, então peço a Deus que tudo termine. A igreja Lighthouse é o que o próprio nome diz, uma casa de luz, luz que ilumina no meio das trevas. Só conheço uma luz que tem esse poder, Jesus Cristo e o seu Evangelho. O Evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação de todo o homem. Ás vezes penso: “Será que estou mal? Será que só eu vejo o que vejo, quando leio o Evangelho?”. Nestes últimos tempos, dou graças a Deus, que encontrei mais, afinal há mais, que assim o lêem. Encontrei um amigo dos tempos do Brasil, o Zé Bruno que há cerca de 10 anos começou a igreja “A casa da rocha” em São Paulo, reencontrei o Caio Fábio que li muito dos seus livros ainda no Brasil, Ed René Kivitz e aqui em Portugal também temos muitas boas igrejas que trabalham no anonimato, que não aparecem em televisão, mas que são congregações que nos fazem bem. Não vou para já, mencionar nenhum português, porque não quero constranger os que todos dias, lutam por um Evangelho puro no coração das pessoas e que ainda não os conheço.
Termino minhas memórias dizendo, a bíblia é um livro de memórias, onde encontramos coisas boas e menos boas, que serve de ensino.
Espero que estas minhas memórias possam ter ajudado a si, que as leu e saiba que Deus te ama muito e ele não é como muitos o pintam!
Deus te abençoe ricamente...
Nota final: Quero mandar um cumprimento muito especial para os meus amigos da igreja: “A rocha” da ilha da Madeira, vos amamos, tantas memórias que podíamos escrever!
Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo
20/12/2019