“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
(Mateus 11:28-30)
Foram palavras de Jesus Cristo, o fundador da igreja, a pedra de esquina, o cabeça da igreja, o Santo, o Ungido e o Escolhido do Senhor: “Sob esta pedra edificarei a minha igreja”.
Jesus Cristo não fundou uma seita. Uma seita é um grupo de pessoas que seguem ideias e doutrinas de um líder com tendências de uma mentalidade tribal, hostil, dominador, manipulador, narcisista, ditador, que tende a isolar-se do mundo e que considera os outros pecadores, impuros, inferiores ao grupo que lidera! A esta ligação, forma-se um jugo forte e pesado.
Foi assim, num ambiente como este, que eu e minha esposa vivemos durante duas décadas e meia.
O papel da igreja deveria ser o de ajudar as pessoas a ligarem-se a Cristo e ao Evangelho, mas em vez disso, uma boa parte, das igrejas que eu conheço, infelizmente, ligam as pessoas à própria igreja, ao nome da denominação, à doutrina e visão, ao líder, que se apresenta como representante de Deus, ao templo, ao altar, ao santuário, ao serviço, quanto mais servires na igreja e passares o tempo nela melhor, aos óleos da unção, ás campanhas, às convenções, conferências e festas constantes, que mantém as pessoas ocupadas, sem vida própria, até que tudo se torna num jugo forte e pesado.
O fruto não é bom, nasceram muitas inimizades, separações, divórcios, nunca vi tantos divórcios entre pastores e lideres, famílias desfeitas, pais para um lado, filhos para outro lado e estamos a falar de famílias cristãs que se converteram juntos e que passado estes anos, andam de costas voltadas.
A igreja em vez de ser o pólo de união, de convergência, de reconciliação, tornou-se lugar de divergência, separação, guerras, contendas e inimizades. Tudo feito em nome de Jesus!
Tudo começa de uma forma inocente, com ideias que nos parecem certas, puras e de Deus. Alguém dizia: “que o ignorância é o nosso maior inimigo.” Eu concordo 100%, a nossa ignorância com respeito a Deus e ao que a sua Palavra nos ensina é grande e é o maior inimigo do cristão.
Há pouco tempo vi um documentário acerca da vida de Adolfo Hitler, ele era uma pessoa afável, simpática, carismática, facilmente criava amizades e muitos o tinham como um homem bom, de fé, frequentador assíduo da igreja, um cristão exemplar. No entanto sabemos o fim dele, tornou-se um narcisista, hostil, dominador, manipulador, que dividia para reinar, considera os outros povos, principalmente os judeus, raças inferiores dignas de serem liquidadas à fase da terra.
Eu presenciei a uma mudança idêntica com contornos menos devastadores, mas de igual modo terríveis. Por vezes criticamos os líderes que agem deste modo, mas também temos de criticar a nós mesmos por seguirmos pessoas assim. Pois, apesar de difícil, temos o poder de dizer basta, nem que para isso, tenhamos que perder a nossa própria vida. Muitos que enfrentaram Hitler pagaram esse preço.
Eu tinha uma admiração muito grande por Jorge Tadeu, não posso negar, se o fizer, estaria a ser hipócrita! Conheço um pouco a história dele, de como chegou a Portugal, as privações que passou e o modo audaz como começou a pregar o Evangelho em Portugal. Conheci-o em tempos de que a simplicidade e a forma como se entregava a ensinar atraía. A certa altura, uma frase mudou tudo, a frase era: “Vamos conquistar o mundo para Jesus.” O mundo de língua portuguesa e mais tarde outras nações. Esta frase mexia comigo, era novo, acabado de casar com 20 anos, eu só queria juntar a esta causa: “Vamos conquistar o mundo para Jesus”.
Quando somos novos, a tendência é pensar pouco e agir mais, quando somos mais velhos, já pensamos mais antes de agir, na flor da idade comecei a minha caminhada para ajudar a alcançar o alvo. Aparentemente, não existe nada de errado com a frase, mas ela tornou-se a bandeira da instituição. Subtilmente, sem nos apercebermos, o Evangelho de Jesus Cristo vai sendo substituído pela causa de conquistar o mundo para Jesus. Parece a mesma coisa, mas não é. A igreja como um todo, aos poucos, começa a ligar-se à causa em vez de continuar ligada a Cristo, tendo a causa como principal objectivo, colocando sobre nós mesmos um jugo forte e pesado.
A causa passa a ter um líder, um nome, um rosto. Esse nome, esse líder precisa de ser conhecido, pois o nome da instituição e o nome do líder é a imagem que precisa de ser anunciada como alguém que tem uma chamada de Deus especial, foi escolhido por Deus para esta causa, já vários tentaram derrubá-lo, mas ele continua de pé, pois ele é o escolhido! Subtilmente a causa, o nome do líder e o nome da instituição vai ocupando o lugar que pertence a Cristo.
Acredito que ao inicio do processo, nem o líder e nem o grupo está a ver o perigo. Mas quando se começa a ver, é difícil recuar, porque a procissão vai longe!
Esta minha admiração, passou o risco para o lado da adoração, o líder tornou-se um ídolo para mim. É ele culpado? Não. Eu sou o culpado, eu sou ou fui o ignorante! Tinha a bíblia para me certificar, mas nunca o fiz.
Quando idolatramos alguém, ficamos iguais ao ídolo, temos boca mas que não falamos, temos olhos mas não vemos, temos ouvidos mas não ouvimos. Estava cego, via, mas não via, ouvia, mas não prestava atenção devida, não certificava com as Escrituras Sagradas.
Á medida que se acentuava a suposta honra ao “homem de Deus” que na verdade, tornou-se um espírito de idolatria dentro da instituição e em mim, víamos o modo como as reuniões eram dirigidas, a adoração e a exaltação que antes centrava-se em Cristo passou a centra-se na pessoa do líder e do nome da igreja. Todos os apelos, todas as unções, todas as curas, etc. eram dirigidas ao “homem de Deus”. Ele vai orar por ti, venha receber a unção apostólica...o meu apostolo, o meu Moisés, o meu líder, grande homem de Deus, homem de fé...passou ser um fenómeno em África ao visitar alguns países. Queriam-no ver, queriam tocar, etc.
Os apóstolos de Jesus Cristo, esses, nunca aceitaram adoração, eles repreendiam quem fizesse tal acção. Mas neste caso, é tudo visto como uma glória, dizemos que é para a gloria de Deus, mas, na a verdade, é para a glória de um homem, de uma instituição.
Este espírito vemos a actuar em outras igrejas e também na politica. Por exemplo, o actual presidente dos Eua, Trump, é visto como um escolhido de Deus, uma missão dada por Deus, “Fazer da América grande de novo”.
É por isso que em seus discursos, ele fala, que a América é grande, os soldados americanos são os melhores do mundo, tudo é melhor que os outros, os outros são uns palermas, mas os americanos não, tudo isto, com o apoio da igreja americana.
Hoje, tenho pavor a discursos desses, estou cansado de ouvir frases tais como: “ A nossa visão é conquistar o mundo ou ser pai espiritual de muitos”. Fico logo com dois pés atrás e muito desconfiado. Quando começo a ouvir que nós somos os melhores, a nossa igreja é a melhor, somos uma tribo, somos uma nação, somos conquistadores, somos os escolhidos de Deus, somos, somos, somos...é pura arrogância.
“Quem não é por nós é infiel, rebelde e vai parar ao inferno, quem ajudar pessoas rebeldes vai para o inferno, quem sair da igreja corre o risco de ficar amaldiçoado.”
Estas e outras frases se ouvem constantemente dentro do grupo. Aliás são proibidos de terem comunhão com quem já saiu da organização, faz lembrar a Máfia Italiana, à moda antiga, só falta mandar matar quem sai da instituição, infelizmente o jugo que se impõe tem morto espiritualmente a muitos.
O mais grave, é quando começam a interferir na vida pessoal e intima das pessoas. Querem controlar tudo, interferem na vida pessoal dos filhos, nos casamentos, enfim...analisam o facebook, não vá você ter um amigo que eles não querem que você tenha.
Há também aqueles líderes que mandam os seus pastores e bispos fazerem vasectomia, para não terem mais filhos, enfim, uma verdadeira seita, um mundo à parte!
E por fim, chega-se ao ponto de se elaborar contratos, pactos de fidelidade ao ministério, com a justificação de que a instituição investe muito dinheiro na formação dos pastores e líderes, e assim sendo, não podem sair de qualquer maneira.
O interessante é que o dinheiro que eles dizem que investem na formação, é o mesmo dinheiro que todos dão em dízimos , ofertas e pagamentos impostos ao centro de treino para a instituição. De quem é esse dinheiro? Do povo que dá, ora se eles investem na formação do povo, não fazem mais que a sua obrigação de dar formação.
Pertencer à liderança da instituição é como estar casado com a instituição e quem sair, está a cometer, na otica deles, adultério espiritual! Assim como ler outros livros é adultério espiritual...infelizmente a ignorância é grande!
A boa noticia é que graças a Deus, consegui ver, consegui sair da nuvem e nasci de novo. Arrependo-me profundamente da minha idolatria. Mas aprendi, decidi ler a bíblia como se fosse pela primeira vez e aprendi que Jesus Cristo é o único ungido do Senhor, e que não preciso de nenhuma unção especial, de nenhuma unção de apostolo, de nenhuma unção de pai espiritual, ou seja o que for, pois já a tenho em Cristo Jesus, tenho a unção do Santo, que é Cristo. Estou selado pelo Espírito Santo de Deus.
Aprendi que o jugo de Cristo é suave e seus fardos leves, aprendi que agrado a Deus pela fé e não por estar todos os dias na igreja, no templo, no altar, no serviço a seguir o homem de Deus.
Aprendi, que em Cristo Jesus estou livre de todas as maldições e que o homem não tem poder para me amaldiçoar, inclusive o maligno não me pode tocar a não ser que Deus permita. Aprendi que onde está o Espírito de Deus, aí há liberdade e não jugo pesado e duro.
Que Deus tenha misericórdia de todos nós.
Aconselho que leiam a bíblia, alguns lhe dirão: “cuidado com esse evangelho light que anda por aí, essas coisas novas...”. De facto anda por aí muitos evangelhos e muitos "Cristos", mas só há um caminho, leia o Evangelho de Carreirinha, devagar, com calma e o Espírito Santo te esclarecerá.
Memórias de 30 anos de Evangelho – José Fidalgo
07/01/2020