Alguém me perguntava um destes dias: Se Jesus nos deixou a Sua paz, porque é que não a tenho? Então resolvi refletir sobre este assunto:
1. O que é a paz?
A paz é definida como tranquilidade, harmonia, quietação de ânimo, concórdia e até ausência de guerra. Todos a desejamos!
E a verdade é que Jesus no-la entregou.
Em João 14:25-27 , Jesus despedia-se dos seus discípulos dizendo que ia deixar-lhes o Espirito Santo Consolador, e Ele afirmava (vers. 27): “ Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração nem se atemorize.”
Então, Jesus prometia que, com os seus discípulos, ficaria a paz. Mas que paz é essa?
Antes de mais convém dizer o que esta paz não é: Não é a paz humana como a conhecemos; não é a paz que depende de fatores externos e que existe só nos nossos bons momentos; não é como a paz que o mundo oferece, dependente de circunstâncias. Jesus distingue-a, chamando-lhe “a minha paz”.
Esta é uma paz mais profunda e sólida, à qual podemos chamar sobrenatural, pois ela é encontrada apenas em Cristo.
Ao longo do livro de João, vemos Jesus preparar os discípulos para a sua partida e instrui-los.
Pensemos então juntos: Aqueles homens tinham acedido ao convite de Jesus para O seguir. E não era como nós fazemos hoje. Eles seguiam-no fisicamente, deixando para trás tudo o que os impedisse. A vida deles era simplesmente e literalmente seguir Jesus. No entanto, agora Jesus dizia-lhes que iria regressar para de onde tinha vindo : Ao Pai. E que eles não o poderiam seguir. Seria, portanto, normal que estes homens se sentissem perdidos, sem rumo, e assim perdessem a paz, tal como a conheciam (a tranquilidade, a quietação de ânimo), deixando-se envolver pela ansiedade.
Mas, em João 16:33, Jesus diz-lhes: ” Tenho-vos dito isto para que em mim tenhais paz”.
Ele utilizou a expressão “em mim”. E depois colmatou: “no mundo tereis aflições”
Isto significa que ter paz não quer dizer não ter aflições. O que Jesus afirmou foi que eles teriam aflições, mas ainda assim, em Cristo (“em mim”) teriam paz.
Que quis Ele dizer? Como ter paz em Cristo?
2. O que tem a graça a ver com a paz?
Ora, já percebemos que quando Jesus fala em deixar o Espirito Santo com os seus discípulos, de seguida fala na Sua paz. Porque o Espirito Santo e Jesus são Deus, e se o Espirito Santo habita em nós, a paz dEle também habita. Romanos 8:6 refere que a inclinação do espirito é vida e paz.
Tentemos então perceber alguns fatores:
Já lemos um pouco dos cap.14 e 16 de João, e entre eles está naturalmente o 15 , que utiliza a comparação da nossa relação com Jesus, com a das varas e a videira: A vara só tem vida se agarrada à videira, e apenas assim dá fruto (João 15:1-5). Gálatas 5:22 apresenta o fruto do Espirito e a paz integra-o. Esta paz deve fluir nos corações daquele que é discipulo, tal como flui a seiva nas varas ligadas à videira. As varas não produzem a seiva. Ela é produzida pela videira, como a sua seiva; Assim o fruto do Espirito é produzido pelo Espirito, em Cristo, e integra a paz, a Sua paz.
O fruto acontece mediante a nossa ligação a Cristo (tal varas à videira). Não acontece pelo nosso esforço ou mérito, mas pela nossa ligação a Ele. É um dom divino, o que se desenvolve no aprofundamento da comunhão com Deus.
Não é à toa que Paulo saudava a Igreja com a expressão “graça e paz”, pois graça é favor imerecido; sem graça não haveria paz, pois só pela graça somos reconciliados com Deus e a ligação que se estabelece nos oferece (tal dádiva!) paz em Cristo. O Salmo 29:11 refere que “ O Senhor abençoará o seu povo com paz”.
E em Colossenses 3: 5 podemos ler: “ E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em Um corpo, domine nos vossos corações, e sede agradecidos” Por isso devemos ser gratos por sermos alcançados com a graça de Deus, a qual nos reconciliou , ligando-nos tal varas à videira, e nos fazendo assim frutificar a paz.
3. Paz nos sentimentos e pensamentos
Mas a verdade é que muitos de nós não estão a experimentar essa paz, antes têm sido dominados pela inquietação ou ansiedade.
Que fazer? Debrucemo-nos agora sobre Filipenses 4:6-7 “ Não estejais inquietos por coisa alguma, antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas, diante de Deus, pela oração e suplicas, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.”
Começamos por receber uma exortação para não permitirmos que a inquietação nos domine. Isto significa que há algo que nos compete fazer; “Não estejais inquietos por coisa alguma” – significa que nos compete a nós (ainda que Cristo nos tenha já dado a Sua paz) não permitir que a ansiedade nos domine. Mas como?
A expressão “antes”, explica-nos o como, significando que em vez de nos permitirmos ser dominados pela ansiedade ou inquietação (“ por coisa alguma”- não importa o tamanho e impacto do que nos está a inquietar), devemos levar a Deus, em oração, a nossa preocupação.
Como resultado de depositarmos nEle a nossa preocupação, inquietação, ansiedade, apreensão, aflição,temor, confiando nEle como Senhor absoluto das nossas vidas, temos o que está descrito no vers. 7 : a paz Deus (não a do mundo, a que depende de muitos fatores externos a nós)- do Deus imutável (que é , era e se mantém imutável, mesmo perante a mutabilidade das circunstâncias) - guardará os nossos corações (sentimentos) em Cristo Jesus.
Guardar é manter preservado. Isaías 26:3 diz: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” A mente é onde estão os nossos pensamentos. Portanto, Deus guarda não apenas os nossos sentimentos mas também os nossos pensamentos. A paz não é ausência de problemas ou aflições, mas é sabermos que sobre todos os problemas e aflições, o nosso Deus é Soberano.
Esta paz é incompreensível ao entendimento humano, pois é a mesma paz que Jesus demonstrou perante a tempestade que se levantou quando ele estava num barco com os seus discípulos, e apesar da tempestade, Ele dormia (Mateus 8: 23-27). Trata-se de uma paz profunda, que não tem origem humana, mas que é dom divino.
Voltando a olhar para a passagem de Filipenses 4, agora debrucemo-nos sobre os vers.8-9. Esta paz, incompreensível ao ser humano, muda sentimentos e pensamentos.
E nós precisamos aquietar a nossa alma, entregando as preocupações a Deus, e permitindo que a Sua paz guarde os nossos corações, ou seja sentimentos, e abranja os nossos pensamentos (“ Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude , e se há algum louvor, nisso pensai.”)
A nossa parte é substituir os nossos medos e preocupações com pensamentos e sentimentos suscitados pela segurança de estarmos protegidos, cuidados, ligados a um Deus que é cuidador, que é absolutamente confiável.
Foi por conhecer a fidelidade deste Deus e compreender que a sua vida estava entregue a Ele, que Estevão (sim, é um ex. duro, do mais duro!) manteve a paz enquanto o apedrejavam (Atos 7: 59-60). Ele entregou a Jesus a sua preocupação, o medo (que poderia tê-lo invadido e dominado) e lhe pediu não apenas que recebesse o seu espirito , mas que não imputasse o pecado aos que o apedrejavam ( ele ainda entregou o que poderia ser a sua mágoa e foi para Cristo, livre de qualquer amargura).
Na carta aos Filipenses 4: 9 lemos ainda uma exortação a agir, a fazer a nossa parte, (a qual ficou descrita nos versículos anteriores) : “ O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei”. E o resultado será: “ e o Deus de paz será convosco”.
Podemos ter esta paz, sabendo que independentemente das circunstâncias, o Deus de paz está connosco. E Ele está completamente e inteiramente presente em cada um dos nossos bons e maus momentos. E a Sua paz é fruto do nosso relacionamento com o Deus de paz.
Então, liguemo-nos cada dia mais à Videira que é Jesus, e deixemos que o fruto se desenvolva em nós.
A todos vós, graça e paz!
Carla Silva
08/09/2021