Autoridade em amor

“A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção, a afugentará dele.” (Provérbios 22:15) - Esta passagem bíblica, curta, mas muito rica em conteúdo, merece que nos retenhamos calmamente nela, retirando aplicação prática para as nossas vidas:

1.     A Estultícia está no coração do menino

Estultícia significa tolice, falta de discernimento. Ora, pode parecer-nos estranho afirmar-se que tais atributos estão ligados ao coração, isto é, ao íntimo da criança. Mas a verdade é que a criança nasce com a natureza do pecado (devido ao pecado original), inclinando-se por isso a um comportamento despido de sensatez e caraterizado por falta de discernimento. E esta é a razão porque Deus instituiu um modo seguro tirar da vida da criança tal inclinação pecaminosa. Esse modo é retratado neste versículo por um objeto: a vara.

2.      Porquê a Vara?

Muitos poderão pensar na vara como um instrumento agressivo que pode simplesmente servir à punição física, a abuso de poder, imposições gratuitas e até mesmo espancamento. Mas na verdade, na Bíblia, nada disso é o significado atribuído à vara. Esta retrata a autoridade delegada por Deus e podemos vê-la presente quando Deus a delega, por exemplo, em Moisés.

Da mesma forma, Deus entregou a vara, isto é a autoridade, aos pais, relativamente aos seus filhos e eles devem usá-la para corrigir. Por isso é chamada vara da correção, ou seja, autoridade dada por Deus para corrigir os seus filhos.

No entanto, assistimos no meio das famílias a alguns desvios a este padrão de Deus: Por um lado, alguns pais receiam praticar a correção, com medo que os filhos não os vejam como “amigos”; por outro lado, outros pais, temem perder a autoridade perante os filhos se forem afetivos no exercício dessa correção; E há ainda aqueles que se acham uma espécie de “donos” dos filhos, tratando-os como objetos, desrespeitando-os, e exercendo a autoridade que lhe foi dada, não como autoridade mas como autoritarismo.

 Então afinal o que é isso de exercer autoridade delegada por Deus, e como se relaciona esse exercício com o Amor?

3.      Reter a vara

Para quem considera que amar um filho é permitir-lhe tudo, dando total liberdade para fazer o que bem entender, será estranho perceber o que é dito na primeira parte de Prov.13:24 ” O que retém a sua vara aborrece a seu filho (…) ”, pois está aqui entendido que aquele que não exerce esta autoridade (“retém a vara”), não prova amar o seu filho (“aborrece a seu filho”).

Na vida, tudo o que dizemos crer ou sentir, tem modo de ser provado por atos, e o amor por um filho é provado no exercido da autoridade que Deus conferiu aos pais, não devendo essa autoridade ser retida. Refletindo sobre isto, podemos observar o exemplo de Samuel, cujo ministério ficou colocado em causa devido à sua postura permissiva e ao facto de não exercer a autoridade parental (tal a importância de o fazer!).

4.     Exercer autoridade implica castigar?

Mas Prov. 13:24 continua: “ (…) mas o que o ama, a seu tempo, o castiga.” Castiga significa punir, e a verdade é que há momentos, em que por muito que custe, é necessário punir. Essa punição por vezes consegue ser mais dolorosa, aos pais, ao exercê-la do que aos filhos, que a recebem. Por isso, alguns pais, tanto a evitam.

Mas, algumas traduções, em vez de “castiga”, utilizam a expressão “repreende” ou “corrige”. Isto porque corrigir significa “recolocar no caminho certo”, e nessa medida, a correção começa por ser um ensinamento e pode passar a ser um castigo (tomado sob várias formas, incluindo a punição física).

Podemos ainda reparar que aqui é afirmado que aquele que ama o seu filho, como resultado desse amor, acaba por, em momento oportuno, o castigar.

5.     Correção é prova de amor?

Ainda em Prov 3:12, está escrito: “porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem.”. Aqui, vemos reforçada a ideia de que o amor e a correção estão intimamente ligados. A correção mostra à criança os limites que lhe darão segurança, mas ela deve ser exercida de modo correto, ou seja de forma racional, e não impulsiva, pressupondo aquilo que é O mais excelente: o Amor.(I Cor 13:13 “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”)

É importante que os filhos percebam que o amor dos pais é incondicional e mantém-se no momento da correção, sendo esta uma consequência desse amor. Todavia, alguns pais temem que o exercício da autoridade em amor conduza à falta de reconhecimento dos filhos quanto a ela, mas na verdade, o amor que reveste a correção reforça a segurança que os filhos precisam sentir.

Deste modo, tal correção tem de ser baseada, não na disposição dos pais no momento, mas no comportamento a corrigir, devendo o Amor ser o que impele os pais a exercê-la, tomando assim o papel de principal ingrediente neste exercício, de modo a que a autoridade não se transforme em autoritarismo.

6.      Corrigir não é maltratar

O autoritarismo não conhece o amor, uma vez que é dominador, impondo e tratando com desrespeito e intransigência; conduz a dor intensa (não a dor necessária da correção, mas a dor da mágoa, revolta e raiva), a qual deixa marca no coração dos filhos. Não foi esse modo déspota que Deus instituiu para o exercício da autoridade parental, antes os pais são instruídos a não provocar ira aos seus filhos, como vemos em Efésios 6:4: “E, vós, pais, não provoqueis a ira aos vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor”.

Os pais são exortados a criar os filhos na doutrina (ou seja nos princípios da Palavra de Deus) e também a admoestá-los, o que significa aconselhar quanto à maneira de proceder, para que a corrija de alguma forma; advertir, avisar. O principal objetivo da autoridade delegada aos pais é a transmissão e alinhamento do comportamento dos seus filhos aos princípios da Palavra de Deus, e não pode ser exercida de modo leviano ou descuidado.

Corrigir os filhos, não dá o direito de espancar nem maltratar! Mesmo quando necessário utilizar a punição física, esta não deve ser usada para descarregar as frustrações dos pais, mas sim, de forma racional, quando outras correções não surtem o efeito pretendido.

7.      A estultícia é afugentada

O resultado do exercício desta autoridade, nos moldes estabelecidos por Deus, é que a tal estultícia que carateriza a criança sem correção, é afugentada, ou seja, expulsa da vida dessa criança. A criança ensinada na Palavra, a quem os pais corrigem, tenderá a tornar-se mais sensata e a ter um melhor discernimento.

Deus não faz nada “só porque sim” e há sempre uma razão (mesmo que possamos não entender todas, nem em todo o momento!) por detrás das instruções que Ele nos deixou na Sua Palavra, e o resultado de obedecermos ao exercício desta autoridade é ver crescer filhos que sabem dirigir os seus passos, fazendo da luz da Palavra, lâmpada para os seus pés (Salmos 119:105)